sábado, 29 de julho de 2023

REFLEXÃO

 



Como se morre de velhice

ou de acidente ou de doença,

morro, Senhor, de indiferença.


Da indiferença deste mundo

onde o que se sente e se pensa

não tem eco, na ausência imensa.


Na ausência, areia movediça

onde se escreve igual sentença

para o que é vencido e o que vença.


Salva-me, Senhor, do horizonte

sem estímulo ou recompensa

onde o amor equivale à ofensa.


De boca amarga e de alma triste

sinto a minha própria presença

num céu de loucura suspensa.


(Já não se morre de velhice

nem de acidente nem de doença,

mas, Senhor, só de indiferença.)


( Texto de Cecília Meireles, )


in 'Poemas (1957)'

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